JANUSZ KORCZAK, com trinta e quatro anos abandonou o
exercício da medicina para se dedicar toda a sua vida às crianças. Em 1942,
Korczak morreu no campo de concentração, com as 200 crianças do orfanato que
dirigia em Varsóvia. Embora foi lhe oferecido um salvo conduto, ele rejeitou
com desprezo; mas para apaziguar as crianças, ele tinha lhes dito que iam em
excursão, e elas, confiantes, o seguiram, sem choro e sem protesto.
Deus ama as crianças. O coração de Deus se move na direção
dos órfãos e Ele nos dá esta ordem:“Defendei o direito do órfão” (Is 1.17). Durante
o Holocausto nazista, um certo homem fez exatamente isso.
Ele nasceu em 1878 na cidade de Varsóvia, Polônia, e seu
nome de nascimento era Henryk Goldszmit. Os pais de Henryk eram etnicamente judeus,
mas praticavam muito pouco do judaísmo. Eles também eram ricos. Entretanto, a
infância de Henryk foi tudo menos alegre. Seu pai o ofendia verbalmente com
insultos. Sua mãe o mimava e reprimia.
Quando Henryk chegou à idade de 11 anos, seu pai começou a
sofrer uma série de colapsos nervosos que culminaram no empobrecimento da
família. Com 18 anos de idade, Henryk sofreu a perda de seu pai que morreu num
hospício.
Tais experiências deram forma à causa que Henryk abraçaria
por toda a sua vida. Ele repudiou a freqüente tirania dos poderosos sobre os
fracos, a tirania dos ricos sobre os pobres, a tirania dos adultos sobre as
crianças, bem como assumiu a missão de reformar a sociedade e ajudar aos
necessitados.
Para cumprir sua missão, Henryk ingressou na medicina,
especializando-se em pediatria. Enquanto cursou a universidade, ele cobrava
valores exorbitantes de consulta dos seus pacientes abastados, de modo que
pudesse ir aos cortiços e favelas para tratar dos pobres a baixo custo.
Durante aqueles dias, Henryk também começou a escrever e
publicar suas experiências entre a população carente, a fim de chamar a atenção
para a sua condição deplorável. Além disso, adotou o nome de Janusz Korczak, um
nome mais polonês na sua sonoridade, pelo qual se tornou conhecido por toda a
Polônia como um médico que cuidava dos miseráveis e advogava a causa das
crianças. “Eu lhes digo”, escreveu Korczak, “Nunca vi cena mais cruel do que a
de um bêbado que espanca uma criança ou do que a de uma criança que entra num
boteco e implora: ‘Papai, vem pra casa!”’.1
Em 1912, Korczak tomou a difícil decisão de deixar a prática
da medicina numa clínica infantil para se tornar o diretor e médico de um novo
orfanato judeu em Varsóvia o qual abrigava 100 crianças. Depois da Primeira
Guerra Mundial, ele acumulou a responsabilidade de dirigir mais um orfanato,
este para crianças não-judias.
Korczak dirigiu seus orfanatos conforme a “Children’s
Republic” (i.e., “República das Crianças”) que ele delineou em sua famosa
obra How to Love a Child (“Como Amar Uma Criança”), na qual
enfatizou a importância de se respeitar as crianças e permitir-lhes governar a
si mesmas. Embora alguns de seus métodos possam ser questionáveis para o uso no
lar, eles provaram ser eficazes naqueles orfanatos. Um levantamento referente a
um período de 20 anos demonstrou que 98% dos órfãos com quem Korczak trabalhou
se desenvolveram em cidadãos produtivos e equilibrados.
Korczak escreveu, ensinou e fez discursos anônimos pelo
rádio acerca das crianças e suas necessidades. Ele visitou a Terra Santa por
duas vezes e planejava uma terceira visita, possivelmente para lá permanecer,
quando a Alemanha invadiu a Polônia em setembro de 1939.
A partir do momento que Varsóvia foi tomada pelos alemães,
Korczak se viu forçado a deslocar seus órfãos para o recém-criado Gueto de
Varsóvia. Quinhentos mil judeus (dos quais 100 mil eram crianças) foram
comprimidos e confinados numa área menor do que 2 quilômetros quadrados de
extensão. Por dois anos Korczak e sua equipe se esforçaram para cuidar de suas
crianças. Ele se dirigia às pessoas para pedir comida, batia de porta em porta
para levantar donativos e improvisava recursos para tratamento médico. Para
preservar uma certa aparência de normalidade e manter o moral das crianças
elevado, Korczak deu continuidade às atividades da rotina diária das crianças,
inclusive as práticas de dar recitais de música e de fazer apresentações
teatrais.
Em 1942, Korczak manteve o registro de um diário por três
meses, o qual mais tarde foi encontrado. Nesse diário ele escreveu: “Eu existo
não para ser amado e admirado, mas sim para que eu mesmo aja e ame. Não é dever
dos que estão ao meu redor me auxiliar, ao contrário sou compelido pelo dever
de cuidar do mundo, cuidar do ser humano”.2
Em julho de 1942 os nazistas começaram a transferir os
habitantes do Gueto de Varsóvia para o campo de extermínio de Treblinka. Em 5
de agosto daquele ano, aqueles 200 órfãos marcharam lado a lado em quatro
fileiras sob a liderança de Korczak, de cabeça erguida na direção dos trens que
os aguardavam. Apesar das ofertas anteriores de isenção pessoal e
salvo-conduto, Korczak permaneceu nas suas incumbências. Ele afirmou: “Não se
abandona uma criança doente ou carente durante a noite. Eu tenho duzentos
órfãos; num momento como esse, vou ficar ao lado deles a cada minuto”.3
Na última ocasião em que Korczak foi visto, ele mais
uma vez estava prestando auxílio às suas crianças – no interior dos trens. Ele
preferiu acompanhar suas crianças no trem que as levou para a morte nas câmaras
de gás.
Embora nunca tenha se casado, Korczak deixou um legado
duradouro. Tiago em sua carta escreveu:“A religião pura e sem mácula, para
com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações...” (Tg 1.27). Janusz Korczak, apesar de não ter sido um
crente em Cristo, nem judeu praticante, indubitavelmente exemplificou o
princípio desse versículo e estabeleceu um modelo a ser seguido por todos.
(Bruce
Scott, Israel My Glory - http://www.beth-shalom.com.br)
Notas:
- Citado no livro de Mark Bernheim, Father of the Orphans: The Story of Janusz Korczak. Nova York: E. P. Dutton, 1989, p. 66.
- Janusz Korczac, Ghetto
Diary. New Haven: Yale University Press, 2003, p. 69.
- Bernheim, p. 131.
Recebi pelo Grupo de EBD Infantil (Danúbia - SP)