HISTÓRIA E GENEALOGIA
Introdução...
O coronel do regimento de burgueses, Gaspar van Nieuhof van
der Ley, ex-capitão de cavalaria, talvez parente de Johan Nieuhof, seu
contemporâneo, autor da Memorável Viagem, de variada notícia para o
Brasil-Holandês, deve ser o avô ou bisavô da pernambucana dona Josefa Lins de
Mendonça, casada com o possível português João de Sousa Pimentel, plantadora da
semente no Arraial Nossa Senhora dos Prazeres do Assu, fundado pelo capitão-mor
Bernardo Vieira de Melo, para nós, de saudosa memória. Pelo ramo eminentíssimo
dos Lins, vieram os Wanderley, brotando nos filhos, Gonçalo Lins Wanderley, que
deve ser o segundo gênito, e João Pio Lins Pimentel, o primogênito que, ao
fazer-se maçom na SIGILO NATALENSE em 1838, é maior de 40 anos, casado e
proprietário, residente no Assu.
Em pouco mais de um século o Wanderley estende a ramaria
prolífera cobrindo o mural provinciano com as graças do engenho, irresistível
na conquista social.
É uma presença inevitável em todas as atividades normais.
Fazendeiros, deputados provinciais, estaduais, gerais, cinco vezes presidindo a
província. Fundam jornais, mantêm tipografias, advogam; são jornalistas natos,
prosadores, tribunos ao nascer. Oferecem o primeiro médico, o primeiro
romancista, o maior poeta, poetisas excelsas. São debatedores, arrebatados,
brilhantes, com a impecável tradição da cortesia, da palavra airosa, do gesto
oportuno e lindo.
Atestam, através do tempo, a maior e mais notável
contribuição intelectual de que uma família possa orgulhar-se.
Noventa e nove por cento dos Wanderley escrevem versos,
discursam e fazem jornal, inesgotáveis de inspiração, inalcançáveis pelos
diabos azuis do desânimo, ignorando o que Stevenson denominava a dignidade da
inércia.
O moto da família holandesa dos Wanderley anunciava, há mais
de quatrocentos anos, essa divina continuidade funcional: "SEY TALTYDT VAN
EENDERLEY SIN". Seja sempre um Wanderley, haja, exista, viva sempre, um
Wanderley. E eles têm cumprido a profecia heráldica que orna, qual uma flâmula,
o brasão fidalgo.
Luís da Câmara Cascudo
O Brasão de Família...
Deve-se ao holandês J.B.Beer van der Ley, de Harlem,
Holanda, a cópia autêntica do Brasão da família Wanderley. " Seja sempre
um real (verdadeiro) Wanderley ", é a determinação histórica do brasão
fidalgo.
Origem...
JARICHS VAN DER LEY - um "landlord" - Era
dono da pequena vila de Laij ou Ley, o primeiro de que se tem notícia, em 1480.
Teve um filho de nome Hendrick.
HENDRICK JARICHS VAN DER LEY (Filho de Jarichs), foi quem
assinou em 1579 a carta de Independência da Holanda.
Nasceu em 1530. Assinou esse tratado como representante da
província de Friesland, em Utrecht. Era general. Casou três vezes e teve nove
filhos. Morreu em Roterdã e um de seus filhos era oficial.
JAN HENDRICK VAN DER LEY, filho de Hendrick, nasceu em 1567 e
faleceu em Roterdã.
GEORGIUS VAN DER LEY, advogado, nasceu na então província de
Frisia, em 1607.
Estes foram os primeiros. Dessa pequenina aldeia de Ley
partiram para o Brasil os portadores do nome tradicional. "Seja sempre um
real (verdadeiro) Wanderley" é o velho "slogan" que deve ser
transmitido de geração a geração.
História...
A Família Wanderley, diz Borges da Fonseca, (Nobiliarquia
Pernambucana, vol. 1 e 2) teve o seu princípio em Pernambuco com Gaspar
Wanderley, Capitão de Cavalaria das tropas holandesas (Cast li 6, n.74 Lucid.
Liv. 3, cap. 7, 172 e173) de cuja nobreza temos testemunho autêntico em uma
certidão do Conde Maurício de Nassau.
Eu a vi a própria e a tive muito tempo em mãos, que m'a deu
a ver o Mestre de Campo Antônio da Silva e Melo; e depois de sua morte a seu
irmão Dr. João Maurício Wanderley, vigário de Camaragibe por via de seu parente
o pe. Francisco Xavier de Paiva Lins, cura de Santo Antônio, que é a seguinte:
"João Maurício, pela graça de Deus, Príncipe de Nassau,
Conde de Katzenellenbogen, Vianen e Dietz, Senhor de Beilstein, Mestre da Ordem
Taem Teutônica de São João, Governador por Sua Serenidade Eleitoral de
Brandenburgo dos Principados de Cleve e Minden, e dos Condados de Mark e
Ravensberg, Mestre de Campo General das Províncias Unidas dos Países Baixos,
fazemos saber aos que a presente virem que, quando o senhor João Maurício
Wanderley, que presentemente assiste em Lisboa, nos pediu lhe quiséssemos dar
uma certidão de nobre progênie de seu pai e avôs e todos que tiverem e ainda
hoje têm o nome de Wanderley, sempre foram e ainda são Fidalgos de Sangue e
linhagem nobre e assim no tempo de nossos antecessores como durante o tempo do
nosso governo mereceram dos ditos Wanderley, sempre serem do Senhor Eleitor de
Brandenburgo honrados com os primeiros corpos ofícios e dignidades nobres de
sua pátria nos quais serviram sempre com muito louvor e honra. Em fé da verdade
mandamos despachar sob nossa própria firma e selo. Data em Singen aos 20 de
Dezembro de 1668 anos. JOÃO MAURÍCIO príncipe de Nassau (Selos)."
Presença dos holandeses...
O escritor Luís da Câmara Cascudo, referindo-se ao período
flamengo, situou muito bem o domínio holandês, com estas poucas palavras, a que
ele chama de "fase quase doméstica nas lembranças coletivas" .
"Quando dizemos 'no tempo dos holandeses', significamos
uma vida normal, organizada e lógica, desaparecida e lembrada, cheia de
elementos humanos, sangrando de naturalidade. Naturalmente tem amigos saudosos
e inimigos pesados de rancor, ambos com razão pessoal que é uma fidelidade
intelectual ao patrimônio de cada família, umas descendentes do flamengo;
outras agredidas pelos holandeses há trezentos anos. O mesmo acontece nas
terras das seduções Jesuitas, nas cidades e vilas que foram aldeias governadas
pela Companhia de Jesus.
Ainda há quem os cite fechando os olhos, com vontade de
trazer o Tempo para trás, e outros permanentemente furiosos, como portadores
inesquecidos de uma afronta individual. O interesse instintivo que temos pelo
Holandês pertencente mais ou menos à classe das relíquias familiares guardadas
pela razão na sua antiguidade e pela ligação ao passado, resistindo, pela sua
própria densidade, ao atrito desgastador de três séculos".