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A questão é que muitos de nós empacam na graça divina. Jogam
âncora ali e dali não saem, estacionados nessa que é a maior característica do
amor de Deus. Mas não vivem a graça na relação com os seus semelhantes, demonstrada
essencialmente pelo amor e a misericórdia ao próximo. Vejo muitos e muitos
exemplos e, ao vê-los, sempre lembro-me de 1 João 4.21: "Ora, temos, da
parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão".
E esse, infelizmente, é um mandamento que poucos cumprem. E, ao descumpri-lo,
pecam. Confesso esse pecado. Você é capaz de confessá-lo também?
Há muitas maneiras de falar sobre a graça mas não vivê-la. E
todas se resumem ao pecado denunciado por essa passagem da primeira epístola
de João: amamos Deus mas tratamos o próximo sem amor. O que, na soma
final, é igual a zero. O resultado dessa matemática é nulo. E vivemos uma
vida espiritual no zero a zero.

Eu acredito que Jesus salva homossexuais, do exato mesmo
modo que salva praticantes de pecados terríveis: vaidosos, iracundos,
fofoqueiros, mentirosos, murmuradores, glutões, servos de Mamom, gananciosos,
orgulhosos, arrogantes. Salvou a mim e a você, que não valemos nada, por Deus!
Como não salvaria qualquer outro? Mas damos uma demonstração ínfima de graça no
trato com quem não compartilha de nossa fé. Quando damos.

Olho a ausência de demonstrações de graça de cristãos para
com cristãos e imagino o que o Deus da graça tinha em mente ao inspirar Pedro,
Paulo, Tiago e João para escrever epístolas que chamam cristãos em pecado ao
arrependimento.

Olhe em volta e, por favor, me diga que estou errado.
Preciso ouvir isso.
A graça de Deus também se manifesta em priorizar o outro
acima de si mesmo, como Aquele que despiu-se de Sua glória para pôr a
humanidade desgraçada na porta de entrada do Céu. Mas nós? O outro será sempre
o outro. Primeiro eu, depois o que me interessa, em seguida o que me convém,
logo após meu ego e por último eu de novo. O próximo que temos de amar como nós
mesmos habita o nosso espelho. Se não tem nosso nome e sobrenome, que Deus
tenha misericórdia dele. Pois eu? Tenho que cuidar de mim. Não damos nosso
tempo para o outro. Não damos nosso ombro para o outro. Falamos palavras
belíssimas sobre amor e graça, mas na hora de nos sacrificarmos pelo próximo...
onde? Onde? Onde, por Deus?

A interação de Jesus com os fariseus e mestres da lei mostra
que o Senhor está muito mais interessado na essência do ser, com os valores intrínsecos
que norteiam o nosso viver, do que na obediência a uma lista de tarefas a serem
cumpridas ou não. É por isso que Davi foi chamado - e muitos não entendem por
que - de "homem segundo o coração de Deus": pois o Senhor não olhava
para aquele assassino e adúltero como um assassino e adúltero, mas como um
homem de Deus que assassinou e adulterou. A diferença é monumental - ou nem um
único cristão escaparia, será que você consegue enxergar isso? Nem um único.
Uma vez que vieram o arrependimento, a confissão e o perdão,
o pecado cometido é eliminado e, diante dos olhos do Todo-Poderoso, permanece
tão somente a essência daquele que pecou. Você já teve curiosidade de ler o que
acontece na vida do rei Davi após matar, adulterar e ser perdoado? É revelador
que no mesmo capítulo da Bíblia que relata o confronto entre o profeta Natã e
Davi acerca dos pecados do rei (2 Samuel 12), logo em seguida o texto mostra
Davi sendo honrado por Deus, que lhe concede uma vitória estrondosa sobre os
amonitas. Para Deus, restauração e triunfo. Para os homens? Vale a Lei:
apedrejem Davi. Morte ao homem segundo o coração de Deus. Na teoria, amamos a
graça. Na prática, vivemos o legalismo.

Por isso que você leu no título deste post "a grassa dos
homens": não, não é um erro de português ou de digitação. É apenas uma
forma de mostrar como a graça de Deus nas mãos dos homens torna-se algo
distorcido, equivocado, que tem aparência de graça, som de graça mas só é graça
aos ouvidos de quem ouve o discurso. Na prática, é grassa mesmo.
Curiosamente, o dicionário define "grassa" como, veja você, a
"propagação de uma doença"...
Você se lembra que, depois de ter assassinado, adulterado e
de ter sido perdoado, Davi novamente incorre em pecado, ao mandar fazer o
recenseamento do povo? Um pecado terrível, fétido às narinas de Deus, chamado vaidade.
Quando o profeta Gade lhe dá a opção de escolher entre três tipos de punição, o
pecador que já tinha sentido na pele tanto a graça de Deus quanto a grassa dos
homens sabiamente escolheu, como relata 2 Samuel 24.14: "Prefiro cair
nas mãos do Senhor, pois grande é a sua misericórdia, a cair nas mãos dos
homens". O conceito que Davi tinha da misericórdia dos homens não
era dos melhores. Por que será?
Olho ao redor, olho para dentro de nós e, infelizmente,
constato que nada mudou dos tempos de Davi para cá. Sou homem. Portanto, estou
tão sujeito como qualquer outro a manifestar agrassa crendo
piamente que estou sendo um justo agente da graça. Por isso minha oração
é que Deus me permita entender Sua graça, para ser menos injusto e cruel do que
sou no trato com meu semelhante. Já fui muito mais implacável do que sou hoje.
As pancadas da vida me ensinaram um pouquinho mais. Até porque sou pó, não
valho nada e não tenho moral nenhuma para não estender graça
ao meu próximo.
Você tem? Se tem, sinta-se à vontade para atirar a primeira
pedra...
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício.
Fonte: http://apenas1.wordpress.com/2012/11/08/a-graca-de-deus-e-cristo-a-grassa-dos-homens-e-barrabas/