Trecho de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, de
Gustavo Cerbasi
AS FINANÇAS DO NAMORO
E DO NOIVADO
A primeira grande
crise do relacionamento
Para muitos casais, o namoro é como um conto de fadas, uma
eterna preparação para a lua-de-mel, mesmo que ainda não esteja nos planos. A
convivência restrita a poucos dias da semana, o fato de ambos se encontrarem
sempre em clima de passeio e diversão e a ausência de rotina criam a impressão
de que estar nos braços da pessoa amada é o mundo dos sonhos.
Por essa razão, a decisão de casar-se acaba sendo um drama
para muitas pessoas. Saem de cena momentos de lazer, convivência exclusivamente
a dois, presentes românticos e orçamento para um fim de semana. Entram em cena
rotina do lar, convivência com parentes (incluindo sogros), gastos com moradia
e orçamento apertado para o mês. O drama começa quando o casal pensa em quanto
vai custar a vida a dois e nas responsabilidades a ser assumidas. Como a quase
totalidade das pessoas não tem a preocupação de se preparar para isso antes de
falar em casamento, as mudanças são recebidas como uma ducha geladíssima.
Está desenhado o cenário da primeira crise de todos os
casamentos: aquela que acontece antes do casamento. É quando "cai a
ficha". Homens entram em pânico, procuram adiar a decisão, pois percebem o
tamanho e o preço da responsabilidade. Mulheres se desesperam, pois entendem
que eles não estavam levando a sério o namoro. Muitos relacionamentos acabam
nesse momento.
Parte dessa crise é financeira, parte é de responsabilidade
pessoal. Sim, os homens surtam ao perceber a grande responsabilidade que terão
pela frente — ainda fruto da sociedade machista e da falta de capacidade de
compartilhar problemas. Uma forma muito simples de suavizar essa passagem do
mundo dos sonhos para o das responsabilidades é passar a dividir seus projetos
antes mesmo de falar em casamento. Compartilhem sonhos e metas para a vida.
Dividam seus medos e angústias. Comecem a construir planos de independência
financeira juntos, simulando os custos mensais que teriam no futuro, se
casados.
Muitas pessoas que conheço e são felizes no casamento
tiveram uma passagem suave entre a vida de solteiro e a vida a dois. Foram aos
poucos juntando hábitos, depois projetos, depois convivendo mais tempo e com as
respectivas famílias, unindo contas-correntes ou investimentos... Casar foi
praticamente formalizar a vida a dois que já levavam, uma transição em que
ambos não tiveram surpresas.
Economizando para montar a casa
Quero dividir com vocês um pouco de minha intimidade: minha
primeira lição de planejamento financeiro familiar. Antes de pensar em casamento,
não tinha planos de enriquecimento. Nunca fui esbanjador, poupava parte de
minha escassa renda obtida como estagiário e como professor de inglês. Mas era
uma poupança sem meta de longo prazo, meu objetivo era apenas guardar. O
dinheiro poupado teve altos e baixos, pois eu aproveitava o fato de ser
estagiário de um grande banco para obter dicas e investir em ações, mas fazia
isso sem conhecimentos essenciais sobre o assunto.
Quando eu e a Adriana começamos a falar em casamento, minha
poupança não chegava ao valor de meio carro popular. E a dela era menor ainda!
Mas passamos a sonhar com nossa festa de casamento, com muitos amigos e
parentes, jantar, música, detalhes que fazíamos questão de ter. Construir esse
sonho foi um dos momentos mais felizes de nossa vida. Montamos uma planilha que
incluía tudo, inclusive os gastos com o apartamento — aluguel, reforma, móveis
e decoração — e a lua-de-mel. Quando fomos pesquisar preços e condições, bateu
o desânimo que bate em todo casal nessa fase. O valor de tudo aquilo era
absurdamente alto e incompatível com nossos salários! Teríamos de guardar quase
todo o dinheiro que ganhávamos no mês durante pelo menos dois anos para
financiar o início de nossa vida.
Nesse momento, tomamos a decisão que não só foi a mais
correta como também me incentivou a desenvolver todo um trabalho a partir de
então, passando a orientar as pessoas a agir como nós. Construímos um plano
para pagar tudo. De acordo com ele, teríamos de poupar 75% de nossa renda
conjunta, durante 24 meses, e ainda contar com mais seis meses de renda para
pagar algumas prestações que se acumulariam após a lua-de-mel, já que o
dinheiro não seria suficiente para financiar tudo no prazo que desejávamos.
Tivemos de unir paciência — esperar um pouco mais do que gostaríamos — e
sacrifício — deixar de gastar nosso dinheiro e economizar muito.
Não fizemos como muita gente. Alguns resolvem casar quanto
antes, pois "se não fizermos agora não faremos nunca". Começam uma
vida a dois cheia de problemas e dívidas. Muitos casamentos acabam assim, pois
o sacrifício, se evitado antes, tem de ser feito no melhor momento da vida a
dois. Outros resolvem simplesmente adiar, sem estabelecer uma meta: "Não
temos dinheiro e não podemos agora". E não terão nunca, se não colocarem algum
plano em prática.
Meu plano com a Adriana deu tão certo que, nesse período de
dois anos entre a decisão e o casamento, sentimos que o mundo percebeu nossa
alegria. Trabalhamos furiosamente determinados e economizamos com garra, pois o
objetivo estava logo ali. Era um sacrifício, mas perfeitamente aceitável, pois
tinha data para acabar. Toda essa disposição se refletiu na qualidade de nosso
trabalho: crescemos na carreira e nossa renda aumentou. No dia do casamento,
tínhamos acumulado mais do que pensávamos. Casamos com as contas quitadas (sem
as prestações que projetáramos), apartamento montado e pagando uma lua de mel
bem mais ambiciosa do que sonháramos.
Deu tão certo que a primeira coisa que fiz ao iniciarmos a
vida no novo lar foi esboçar minha planilha de orçamento doméstico, com metas
de poupança e independência financeira.
Construindo o ninho
O momento da escolha da moradia é decisivo para o sucesso
financeiro do casal. A diferença entre a boa e a má escolha pode resultar tanto
num futuro milionário quanto em um total desastre financeiro. Isso porque nosso
padrão de vida é escolhido quando definimos nossa moradia. Com
ela, vêm hábitos de consumo, eletrodomésticos, despesas com transporte (em
função da proximidade do local de trabalho), gastos ou economias com
facilidades (garagem, quintal ou playground para os filhos), impostos e status
da vizinhança — preços diferenciados na padaria, na feira e no supermercado,
por exemplo.
Escolher uma moradia com padrão acima de suas posses
inviabilizará a formação de poupança e aumentará o risco de gastar dinheiro
desnecessariamente com juros, nos períodos em que a conta familiar entrar no
vermelho. Em outras palavras, dificuldades financeiras são escolhas pessoais:
vocês decidem tê-las quando ignoram a importância do planejamento financeiro.
Com exceção dos poucos felizardos que ganham uma casa de
presente dos pais, existem basicamente três opções para a definição da moradia:
comprar, alugar ou construir a própria casa.
O tradicional conselho de família diz que comprar um imóvel
é melhor do que alugar. Cuidado: esse era um conselho muito bom na época em que
as taxas de inflação eram elevadas e o mercado financeiro não oferecia
alternativas de investimento que acompanhassem a inflação. Comprar pode ser o
pior negócio, a não ser que a moradia esteja em local com grande potencial de
valorização ou quando o casal dispõe de recursos disponíveis no Fundo de
Garantia suficientes para pagar uma significativa parte do valor do imóvel —
pelo menos 30%. Isso porque o saldo do FGTS rende juros muito baixos — 3% ao
ano mais TR, ou seja, 3% a menos que a caderneta de poupança! Mesmo nessa
situação, porém, é preciso pensar duas vezes e fazer as contas se vocês tiverem
de financiar o restante do valor do imóvel durante um prazo muito longo. Adiem
a compra e esperem formar um fundo maior, se for o caso.
Pensem da seguinte forma: se hoje vocês recebem de herança
uma casa avaliada em R$ 100.000,00, qual é a melhor escolha: vendê-la ou
alugá-la a terceiros?
Opção 1: se vocês venderem a casa e aplicarem essa quantia
em um bom fundo DI, a juros líquidos (após impostos) de cerca de 1% ao mês,
receberão R$1.000,00 ao mês de renda.
Opção 2: se vocês optarem por ficar com a casa e alugá-la,
não receberão mais do que 0,8% do valor do imóvel, isto é, cerca de R$ 800,00
ao mês de renda, sem contar a taxação do imposto de renda e os riscos: não
receber o aluguel ou ter de arcar com os gastos de manutenção (e condomínio, no
caso de apartamento) no período em que o imóvel permanecer vago.
A opção 1 é claramente melhor, sobretudo se considerarmos
que existem alternativas mais rentáveis de investimento e que nem sempre se
consegue alugar um imóvel a preços de mercado. Essa situação somente se inverte
quando a região em que o casal opta por morar tem grande potencial de
valorização imobiliária. Nas grandes cidades, porém, isso é cada vez mais raro.
O raciocínio a ser utilizado na aquisição de um imóvel é o
da outra parte na negociação. Se alugar é um péssimo negócio para os
proprietários, é um ótimo negócio para os inquilinos. Entre comprar uma casa à
vista e alugar outra de mesmo valor, é melhor alugar. Em vez de desembolsar R$
100.000,00, apliquem esse valor e paguem com sobra um aluguel de R$ 800,00, já
que a renda mensal com os juros será em torno de R$ 1.000,00.
Vocês estão sem dinheiro para comprar à vista? Isso não muda
em nada o raciocínio. Vejam o exemplo que desenvolvi no livro Dinheiro
— Os Segredos de Quem Tem:
Para adquirir um imóvel na planta, a ser construído em dois
anos, cujo preço à vista é de R$ 100.000,00, será necessário pagar uma
prestação média de R$ 1.101,09 se vocês optarem por um financiamento de vinte
anos com juros mensais de 1% mais inflação. Vocês dispõem de R$ 1.101,09 por
mês. Se, em vez de entrarem em um financiamento, optarem por alugar um imóvel
de padrão idêntico (mesmo preço de venda), irão pagar R$ 800,00 por mês, na
pior das hipóteses. Se vocês tomarem o cuidado de poupar a diferença de R$
301,09 durante vinte anos, a juros líquidos de 0,6% ao mês (após taxas,
impostos e inflação), acumularão nesse período o equivalente a, em valores de
hoje, R$ 160.710,50. Se, após os vinte anos de poupança, vocês pararem de
poupar os R$ 301,09 todo mês e deixarem o dinheiro acumulado rendendo juros
líquidos de 0,6% ao mês, terão uma renda para o resto da vida de R$ 964,26,
dinheiro mais que suficiente para sempre alugar um imóvel novo de R$ 100.000,00
e ainda deixar o patrimônio crescendo. Sem contar que, após vinte anos, o
imóvel comprado já estaria bastante depreciado...
Essas regras são universais e serão válidas no Brasil
enquanto perdurarem os juros elevados. Vocês devem estar se perguntando por
que, então, seus parentes e amigos não fazem isso. A razão é simples: falta a
disciplina de poupar quando se opta por uma situação financeiramente mais
vantajosa.
Farão negócio muito melhor os casais que, em lugar de pagar
por moradia pronta, tiverem a oportunidade de construir a própria casa. A
economia pode ser da ordem de 40%, desde que a obra seja bem administrada. É
uma questão de escolha, pois é preciso ter tempo e paciência para planejar,
acompanhar, estudar preços de material e cobrar desempenho dos empreiteiros. Se
tempo e paciência não forem recursos abundantemente disponíveis, o barato pode
sair bem mais caro.